quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Lembranças do meu gostar

Lembro de como tudo aconteceu, as primeiras mensagens, desejos ditos em trexos de músicas, as primeiras músicas tocadas, o primeiro toque acompanhado do medo, seu coração disparado contra meu peito, sua respiração ofegante em meu ouvido. Lembro do primeiro não e também do primeiro sim. Do primeiro filme visto juntos, das bricadeiras feitas com as comidas e lembro subitamente do primeiro beijo. Ah! O primeiro beijo. Quarto escuro, as companhias, a música tocada.
Lembro mais ainda da primeira aventura, o primeiro quarto, a primeira vez que falei do seu cheiro, o primeiro jeito de fazer amor, o que assistíamos, o lugar... guardo até hoje a nota como recordação. Lembro também da primeira frustação no dia seguinte, as palavras ásperas ditas em seguida acompanhadas das primeiras lágrimas e do desespero de nos perdermos.
Lembro da primeira e única carta recebida e escrita, que às vezes em clima de nostalgia a leio para lembrar quando você dizia pensar em mim. Lembro dos desencontros, idas e vindas, dos toques que me reportavam à felicidade plena, todavia me vem a lembrança dos toques que me faziam ir para bem longe de você.
Lembro dos beijos com gosto de chocolate e dos sonhos com chocolate. Sonhos que foram poucos e não como eu queria que fosse. Nem mesmo queria que tivessem sido sonhos. Lembro de cada encontro e principalmente da vontade que eu trazia em cada um deles. Lembro da primeira vez que deitamos de conxinha. Lembro de cada conversa, cada detalhe, cada forma de tratamento, não só as boas (uma pena), mas as que nos traziam desgate também. Lembro de cada abandono de ambas as partes e de cada volta, do desejo de estarmos perto e do desejo de estarmos bem longe. Lembro das viagens feitas e cada próposito trazido nelas.
A quase um ano não sabia mais o que era sentir isso. Sensação de desespero, de desejo, da vontade de um abraço, de ouvir palavras doces vindas de você. Todo esse tempo tive que me guardar tentando encontrar quem pudesse me trazer lembranças como as suas. Espera em vão.
E quando volta tudo outra vez as lembranças aparecem e trazem o doce amargo de não ter podido usufruir apenas bons momentos.
Gostar para mim sempre foi algo sem resposta, incerto, lembranças...
[Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.]
(Clarice Lispecto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário